Quase seis horas, de uma tarde bem chuvosa, num metrô abarrotado de pessoas. Ao meu lado está um avô com dois netos. Um cara cede o lugar para o senhor acomodar o garoto, que pedia insistentemente: “Vô, me coloca no braço porque o metrô ta cheio!”. Ele tem uns três anos. A sua irmã, de seis a sete, no máximo, prefere ficar de pé. Porque parece que as crianças acham mesmo o máximo seguir viagem de pé no metrô, como gente grande.
A certa altura, Luíza, a irmã, começa a implicar com o garoto, Diogo. De imediato me identifico com ela. Não era eu quem implicava com o meu irmão, também mais novo e de nome bem parecido, Diego? As brincadeiras são bem inocentes e têm o único propósito de irritar o caçula: “Vou pintar suas unhas de rosa, que é cor de menina” – e finge pintar as unhas dele com um esmalte imaginário -, “Me dá sua mão, prometo que não vou bater” – e dá uma tapinha bem de leve no irmão. E ele embravece. E algumas pessoas riem dos dois.
Mas o avô não esta gostando muito de todo o alvoroço da neta, agora sentada no seu colo. “Pára!”, grita a primeira vez. “Pára ou eu te dou uma pancada!”, ameaça ainda mais firme... E dá! Mete-lhe a mão espalmada na cara, produzindo uma espécie de barulho alto e seco, que ultrapassa o dos trilhos do metrô. Esbofeteia a criança, no meio de todos. Simples assim. Luíza chora, leva às mãos ao rosto machucado e chora mais um tanto, incansável. E as pessoas viram os rostos, para não ver. Fico anestesiada. Meio hipnotizada e descrente.
Então a menina tira as mãos do rosto, que é pra enxugar as lágrimas. E parece que ela cansa. Seu choro agora parece mais resignado. É quando escuto seu irmão falar ao avô, em tom aflito: “Vô, a Luíza está sangrando!”. E, sim, ela está sangrando! O rosto inteiro está tomado de sangue, do queixo à testa, e demoro alguns instantes pra perceber que sai do nariz. O homem não demonstra nenhum tipo de remorso. Limita-se a dizer, com impaciência: “Eu avisei pra ela: pára, pára. Ela não parou”. “Mas tá sangrando, vô”, insiste Diogo. “Depois eu lavo”, encerra.
O que a gente deve fazer quando presencia uma cena dessas? Bater boca, tomar satisfação? Denunciar? Denunciar a quem naquele emaranhado de pessoas que desembarcam do metrô? É isso que vou procurar saber. E volto para contar.
Dizem que a omissão é a pior forma de violência. E eu fui omissa. Aquela pancada foi na minha cara também. Só que doeu mais na dela.
A certa altura, Luíza, a irmã, começa a implicar com o garoto, Diogo. De imediato me identifico com ela. Não era eu quem implicava com o meu irmão, também mais novo e de nome bem parecido, Diego? As brincadeiras são bem inocentes e têm o único propósito de irritar o caçula: “Vou pintar suas unhas de rosa, que é cor de menina” – e finge pintar as unhas dele com um esmalte imaginário -, “Me dá sua mão, prometo que não vou bater” – e dá uma tapinha bem de leve no irmão. E ele embravece. E algumas pessoas riem dos dois.
Mas o avô não esta gostando muito de todo o alvoroço da neta, agora sentada no seu colo. “Pára!”, grita a primeira vez. “Pára ou eu te dou uma pancada!”, ameaça ainda mais firme... E dá! Mete-lhe a mão espalmada na cara, produzindo uma espécie de barulho alto e seco, que ultrapassa o dos trilhos do metrô. Esbofeteia a criança, no meio de todos. Simples assim. Luíza chora, leva às mãos ao rosto machucado e chora mais um tanto, incansável. E as pessoas viram os rostos, para não ver. Fico anestesiada. Meio hipnotizada e descrente.
Então a menina tira as mãos do rosto, que é pra enxugar as lágrimas. E parece que ela cansa. Seu choro agora parece mais resignado. É quando escuto seu irmão falar ao avô, em tom aflito: “Vô, a Luíza está sangrando!”. E, sim, ela está sangrando! O rosto inteiro está tomado de sangue, do queixo à testa, e demoro alguns instantes pra perceber que sai do nariz. O homem não demonstra nenhum tipo de remorso. Limita-se a dizer, com impaciência: “Eu avisei pra ela: pára, pára. Ela não parou”. “Mas tá sangrando, vô”, insiste Diogo. “Depois eu lavo”, encerra.
O que a gente deve fazer quando presencia uma cena dessas? Bater boca, tomar satisfação? Denunciar? Denunciar a quem naquele emaranhado de pessoas que desembarcam do metrô? É isso que vou procurar saber. E volto para contar.
Dizem que a omissão é a pior forma de violência. E eu fui omissa. Aquela pancada foi na minha cara também. Só que doeu mais na dela.
4 comentários:
Sabe Filha, um dia esse tapa vai doer muito mais nesse "avô", e vai sagrar muito. Só que o sague não será derramado pelo nariz e sim pelo coração que será dilacerado pela dor do remorso. Pode até demorar mas quando a consciência dele despertar... Coitado!
(em: 19/03/2007 18:46)
coselho tutelar ou delegacia de menores. Vc, como uma do povo, podia dar voz de prisão imediata ao avô, levando-se em conta as medidas cabíveis, se ele for idoso e estiver resguardado pelo estatuto do idoso. Ou podia dar uma porrada no véi e descer na próxima integração. Ou ainda dar outra na menina, que não ficou quieta e mereceu derramar cada gota de sangue. Em suma, há várias possibilidades.
(em: 20/03/2007 13:32)
eu saco a revista e vi o concurso, mas nem me interessei em saber como era. mas como tu falou, vou lá ver melhor.
(em: 20/03/2007 13:33)
mi mélo, fui ver o concurso. é um absurdo que vc tenha dito que se parece comigo! Estou profundamente chateado com vc. Não vou tolerar esse tipo de agressão, ainda mais levando em conta que meu tio é ventríloquo.
(em: 20/03/2007 18:14)
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