segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Presenciar vandalismo nos trens é coisa que dá uma raiva danada no coraçãozinho da pessoa

Pois foi assim, simples assim: o elemento (vamos chamá-lo dessa forma e deixar quieto os xingamentos pro filho da mãe) sacou uma canetinha – dessas canetinhas sem graça de marcar cd, que se vendem em comércio popular e até mesmo, ilegalmente, nos trens – e virou-se para deixar sua marquinha de marginal na parede do vagão.

Sentado estava, sentado permaneceu. Achou lindo aquilo. Parafraseando Eça, ele “sentia um acréscimo de estima por si mesmo e parecia-lhe que entrava, enfim, numa existência superiormente interessante”. Estava em êxtase, o elemento. Aquele ato fazia com que ele estufasse o peito, se sentisse mais homem, mais macho, sabe como é?

Afinal ele estava lá, na frente de todo mundo, sob o olhar de admiração de seu amigo loiro oxigenado. Pelos trajes, deveriam ser vendedor de alguma loja de informática da Santa Ifigênia. Sei lá, pareciam vendedores. Camisa pólo preta, calça preta e tênis. E um ar de “eu sou o cara”. E os seguranças da CPTM lá, na estação, sem nada ver.

Acho que eles tinham que circular nos trens também, os seguranças. Pelo menos nos finais de semana, quando há espaço para as pessoas se movimentarem. É que de segunda a sexta tem que ser muito ninja pra conseguir pichar alguma coisa, quase não se consegue um pouquinho de ar pra alimentar os pulmões, imagina só mexer as mãos. Enfim, segurança nos trens pra coibir vandalismo e botar moral nos bêbados mais que inconvenientes e igualmente exibidos.

“Mãe, eu quero denunciar. Vou chamar os guardinhas!”. Fui reprovada e a vontade reprimida. “Não, minha filha, pelo amor de Deus. Você vai ficar sozinha aqui. E se esse cara vai atrás de você? Não, por favor, fica quieta, olha pro outro lado”. Revolta, pessoas, revolta. Não bastasse riscar o trem – que já é péssimo, já é feio, já é superlotado, e quente ou frio demais, dependendo da época do ano, ainda tem que ser sujo e pichado? Porque é público, é isso?

O senhorzinho sentado ao lado do elemento e seu eterno amigo admirador – aqueles com cara de cachorro sem dono – não curtiu muito, acho. Não dá pra saber ao certo, porque ele estava mais ocupado conversando com um tiozinho hip que levava sua arte (não deixa de ser, né?) pra vender em alguma feirinha – brincos a partir de R$ 3,00, de penas, arame e sementes, essas coisas.

Como se não bastasse, ele ainda enfeitou, o elemento, o seu “desenho” com estrelinhas. Estrelinhas, pode? (“Mãe, ele agora colocou estrelinhas, o desgraçado. Estrelinhas!”). Não contente, riscou alguma coisa na barra – que é onde os pobres sub-humanos se seguram desesperadamente pra não cair no sacolejar da viagem, um dos lugares mais nobres, digamos assim, do vagão. E deixou sua marquinha também no tênis do bocó do amigo.

Quanto poder lhe conferia, hein? Ter nas mãos aquela canetinha preta. Ah, colega, mas eu tenho as letras...

5 comentários:

Anônimo disse...

É preciso romper a barreira diante dos problemas graves que, de tão comuns, teimam em parecer normais. Indignar-se é o primeiro passo. Acreditar na realização do impossível e não se deixar curvar pelo pessimismo podem ser os próximos passos no caminho rumo às mudanças.
Abraço fraterno,
José Damião Vasconcelos

adolfinho disse...

tu nao considera isso arte?

Rachel disse...

o que me deixa igualmente irritada é ver uma criatura jogando seu lixo pela janela do ônibus. assim, tão simples como respirar. vai entender!

Cláudio Jr disse...

É mole não! Em um bocado de caso é a necessidade de autoafirmação que leva a isso. Uns brocós que não sabem nada querando marcar território. Isso acontece em várias camadas sociais. Conheço algumas dessas pessoas, gente que se pode dizer: é até gente boa, mas que têm a mesma necessidade de aparecer... Isso tem!
Beijo de pai.

εïз mi disse...

josé_o problema é que eu não consigo passar da indignação pra ação. ainda me falta romper esse bloqueio. às vezes é o não saber o que fazer. outras, medo mesmo.

adolfinho_logo mais te mostro no coisas o que eu considero arte.

rachel_fico irritadíssima também! gente, desde pequena aprendi que "é feio jogar lixo na rua". se não for por consciência de que você pode causar danos à natureza, inundações e blá, que seja pela boa educação, né isso?

pai_pois é. necessidade ridícula e patética de aparecer. e eu lá, servindo de plateia...


beijos