Sobre roletas

Não as russas. Se bem que esses dias... (brincadeira, brincadeira). Nem as dos cassinos, que te viciam e podem te deixar um tantinho mais rico (ou pobre). São as catracas mesmo as que me refiro. Catracas sempre me fascinaram. “Passar embaixo da roleta” nos ônibus, pra não pagar passagem, era tudo nessa vida. “Vai lá, Mila”. Lá ia eu, toda prosa. Até que você cresce um pouco e isso vai ficando meio constrangedor, meio embaraçante – palavra que, se não existe, vou patentear.

E elas estão em todas as partes, as catracas. Não só nos coletivos e tal. Elas estão nos nossos trabalhos, em prédios comerciais (já parou pra pensar que até quando vai ao dentista você tem que passar pela bendita?) e em supermercados. Isso mesmo, em supermercados... Onde é que vamos parar?

Mas sabe o que tem me intrigado e que tomei como um verdadeiro desfio na minha vida? Conto: é passar pelas catracas sem que elas me atinjam a... é... bunda. Pronto, falei. Pois bem. Batem bem na minha bunda e não é legal. Toda vez você tem que dar uma projetada para frente, assim que passa por ela, pra não levar uma lapada.

E, quando a danada não bate, prende a bolsa. Quer coisa mais constrangedora que ficar entalada com a bolsa na catraca? Puxa pra lá, estica pra cá, respira fundo, a fila aumentando atrás de você, um misto de caras impacientes e olhares solidários. A senhora ao seu lado desenvolve uma tese sobre como desentalar uma bolsa, até que alguém sugere: “esvazia a bolsa, moça!”.

Não foi necessário. Nada que um puxavanco* não resolvesse. Pior que isso só entalar-se você mesmo. Porque, vocês sabem, esse mundo não foi feito pros mais rechonchudinhos.

Bons tempos aqueles em que as roletas não me atacavam por trás, eram coisa honesta.

* Não sei aqui em Sampa. Mas, lá na minha terra, significa “puxar com força”.