Não lembro bem qual é o nome que se dá pras desculpinhas esfarrapadas que a gente inventa vida afora por essas terras paulistanas. Mas lá na minha terra o nome disso é agá. E sei lá por que.
Agorinha à noite – um doce pra quem adivinhar que a história se passou num coletivo –, enquanto me preocupava em não manchar as unhas – ou borrar, que é o vocábulo mais comum pra essa situação lá em João Pessoa – recém pintadas de vermelho (mais precisamente Gabriela com Rebú, como se eu lá entendesse de cor de esmalte), escutei o seguinte diálogo:
Moça lá no último assento: Me dá o seu telefone, pra “mim” ligar pra você!
Agorinha à noite – um doce pra quem adivinhar que a história se passou num coletivo –, enquanto me preocupava em não manchar as unhas – ou borrar, que é o vocábulo mais comum pra essa situação lá em João Pessoa – recém pintadas de vermelho (mais precisamente Gabriela com Rebú, como se eu lá entendesse de cor de esmalte), escutei o seguinte diálogo:
Moça lá no último assento: Me dá o seu telefone, pra “mim” ligar pra você!
Rapaz prestes a descer na parada, com cara de “puuuutz”: Eita... pior que eu não sei de cabeça, ó...
Moça lá no último assento: (...)
Rapaz prestes a descer na parada, com cara de “puuuutz” e tirando o celular do bolso, len-ta-meeen-te, pra fingir que iria procurar o número: Ihhh, não vai dar tempo...
Pronto. Desceu. Correndo. Sem nem olhar pra trás. E eu olhei, né? Pra ver quem era a moça. Ficou lá, coitada, com olhar desolado, casaquinho rosa, comendo um sanduíche (que por aqui é bem mais conhecido como lanche) de pão francês, com alface saindo por todos os lados. E eu pensei, né: o maior agá do mundo esse negócio de não lembrar do próprio número.
Nem tão elementar assim, minhas caras e meus caros. Dia desses, esqueci o meu número e nem foi um agá. Lembram da vez que o maníaco do aeroporto começou a ligar insistentemente de todos os números desconhecidos possíveis? E a história do integrante de uma banda de forró que começou a me chamar de “bebê” depois de me conhecer no café da manhã, num hotel pra lá de furreco?
Pois. Já que a pessoa fica sem graça e não sabe dizer “desculpa, mas não, não, não... sem número de telefone, beijo-não-me-liga-nunquinha-pelamor”, o jeito foi não decorar, assim, propositalmente, os meus números. Não que essa pessoa linda e loira (ah vá!) seja assediadérrima, deixemos claro, hein? Mas a jagunçada que andava me abordando era uma coisa horrorosa.
Problema é esse e só: quando um certo alguém (eita, olha a música do Lulu Santos vindo com tudo agora) que parece ser legal, parece ser bacana e blá pede o seu número e você diz “puuuuutz, esqueci, ó!”. O que é que a pessoa pensa, hein? Maior agá do mundo! Eis que você lembra do número do trabalho. Ufa! E viva o ramal corporativo!
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7 comentários:
o coisas vive mais dentro do coletivo que o próprio blog de luis carlos venceslau.
Ailton: concordo!
Eu já estou vacinado com essa coisa de, ao pedir o número, a pessoa falar absolutamente qualquer coisa que não seja o número.
É informar que não dá e ponto final. :)
Podia ter dito "don't call me, I'll call you", que está para o começo assim como "it's not you, it's me" está para o fim de um relacionamento.
achei sensacional essa analogia! e já vou decorar a fala, caso me apareça um outro jagunço: "i´ll call you, baby" hahaha
Adorei a crônica
fico feliz. espero que de onde saiu esta venham mais rsrs
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